Entrevista: Revista Téchne
O profissional
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Egydio Hervé Neto Engenheiro civil e consultor especialista em tecnologia do concreto |
Como surgiu seu interesse pela profissão?
Eu me formei em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, em 1971. Naquela época não havia formação específica para engenheiro tecnologista de concreto. Meu interesse na área surgiu com o meu primeiro emprego, como engenheiro do escritório da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), em Porto Alegre. Em março de 1972, eu já organizava o Curso Intensivo de Tecnologia do Concreto, que tinha duração de duas semanas.
Onde o engenheiro tecnologista de concreto atua?
No campo, em atividades literalmente “mão na massa”, fazendo a mistura e a dosagem dos materiais componentes do concreto e as correções de plasticidade.
O que o engenheiro tecnologista do concreto deve estar apto a fazer? Quais devem ser suas qualidades?
Ele faz estudos que garantem misturas de concreto aplicáveis, quando frescas, e resistentes e duráveis, depois de endurecidas. Firmeza de caráter e sólidos conhecimentos fazem a diferença para esse profissional em momentos que ele parece estar contra tudo e contra todos.
Contra tudo e contra todos?
O engenheiro tecnologista de concreto tem de enfrentar seguidamente a oposição de profissionais que desconhecem o assunto e não aceitam promover as mudanças necessárias para salvar a obra, que muitas vezes é mal conduzida por negociações a preço baixo, que resultam em concretos não conformes.
Qual sua responsabilidade no processo de construção de uma estrutura?
A responsabilidade do engenheiro tecnologista do concreto quanto à qualidade do material concreto é a mesma que a do engenheiro calculista em relação ao cálculo. Infelizmente, isso não é bem compreendido ou aceito no mercado ou nas normas, o que faz com que inúmeras obras não tenham a presença formal e responsável do engenheiro tecnologista de concreto. Isso põe em risco a integridade da obra e desvaloriza a profissão.
A demanda por esse tipo de profissional não é boa, então?
Existe uma enorme distância entre a real necessidade do mercado e aquilo que os donos de empreendimentos reconhecem como necessidade. Isso prejudica os dois lados, pois deixa-se de aproveitar o benefício do trabalho desse profissional, que é responsável por resultados extraordinários e pela obtenção de uma relação custobenefício amplamente favorável.
Quais são os desafios da profissão?
O maior deles é o reconhecimento profissional.
É um profissional bem remunerado?
Não. Em um país onde profissionais mais reconhecidos, como os engenheiros residentes de obra e engenheiros calculistas, não recebem sequer o salário mínimo profissional, o que sobra para quem é menos conhecido, como o engenheiro tecnologista de concreto, é muito pouco.