Carreira - TECNOLOGISTA DE CONCRETO (Revista Téchne)

28/05/2013 08:56

Especialista deve conhecer os componentes do concreto e entender como eles interagem para garantir o bom desempenho das estruturas


Por Valentina Figuerola


 

 

O processo de produção do concreto, com a dosagem dos seus principais componentes, não é tarefa simples. São inúmeras interações que se dão em escala microscópica, no estado fresco e nas primeiras idades do material endurecido, que devem ocorrer em perfeita harmonia para garantir a durabilidade e a vida útil da estrutura ao longo de décadas. E a responsabilidade pela concepção de um concreto saudável é do engenheiro tecnologista de concreto, profissional altamente especializado, com profundos conhecimentos de engenharia, química e resistência dos materiais.

Capaz de resolver problemas relacionados à seleção e à dosagem de cimento, areia, britas, aditivos e adições, o engenheiro tecnologista de concreto costuma trabalhar com a “mão na massa”, próximo à betoneira, envolvido com a produção do material. Segundo o especialista em concreto Egydio Hervé Neto, o engenheiro tecnologista pode – e deve – participar da fase de projeto dos empreendimentos. Isso porque não entende só de materiais, mas também conhece o comportamento da mistura em relação à trabalhabilidade e ao seu comportamento estrutural ao longo do tempo. “Uma das grandes injustiças cometidas com esse profissional é deixá-lo fora do projeto de estruturas, atribuindo ao calculista a tarefa de definição do desempenho do concreto”, explica Egydio Neto.

Ele explica que as construtoras e os engenheiros construtores, por desconhecerem o trabalho do engenheiro tecnologista, costumam contratar para o projeto estrutural apenas engenheiros calculistas, que às vezes não entendem de tecnologia do concreto. Como consequência, surgem especificações incompletas, sem dosagens previamente conhecidas e sem um programa de controle da qualidade. “O projetista e o engenheiro de obras precisam de ajuda especializada para identificar e superar problemas, já que muitas vezes desconhecem os inúmeros fatores que envolvem o comportamento do concreto fresco e endurecido”, diz Hervé Neto.

Para atuar como engenheiro tecnologista, é necessário ser graduado em engenharia civil. “Mas, para ser um bom profissional, é preciso se estender em cursos técnicos e de pós-graduação. Também é conveniente fazer estágios”, diz Rubens Curti, especialista em concreto da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). “Esse profissional tem de conhecer bem as normas técnicas para resolver eventuais problemas relacionados aos materiais de construção”, complementa o especialista em concreto.

O engenheiro tecnologista inicia seu trabalho com a elaboração da especificação do concreto, atividade que envolve a busca e o estudo de componentes e a realização de misturas experimentais que determinam a resistência e o desempenho do material. Ele supervisiona trabalhos realizados em laboratórios ou em campo e envolve-se com o planejamento da produção, plano de controle e conformidade da estrutura. Também define condições como crescimento de resistência, idade para retirada de escoramentos, movimentação de pré-moldados etc. Sua participação no processo ajuda a garantir a durabilidade e a vida útil de estruturas submetidas a vibrações e carregamentos elevados ou expostas a ambientes agressivos, com mudanças de temperatura e variações nos níveis de maré.

Um desafio comumente enfrentado por esse profissional é a elaboração de soluções para evitar problemas estruturais decorrentes do aquecimento do concreto em estruturas de grande volume (concretos massa), que retêm o calor de hidratação da reação do cimento com a água. “Isso exige soluções especiais, como o resfriamento dos componentes com adição de gelo em substituição à água e o uso de aditivos para correções especiais, evitando assim fissuração ou ruptura da estrutura”, explica Hervé Neto.

As pesquisas conduzidas por esses profissionais resultaram em inovações importantes, como o desenvolvimento de concretos de alta resistência, com fck maior do que 60 MPa, e do concreto autoadensável. “Hoje, com a disseminação do uso do concreto autoadensável, a importância do engenheiro tecnologista de concreto é crescente”, finaliza Hervé Neto.

Os principais empregadores desse profissional são os laboratórios de controle, as fábricas de estruturas e artefatos pré-moldados, as concreteiras, os escritórios de consultoria e obras de grande porte como barragens, por exemplo. “Hoje, o mercado tem contratado um engenheiro recém- formado para ganhar um salário de aproximadamente seis salários mínimos”, diz Curti. Ele explica que a remuneração desse profissional depende da experiência acadêmica e da empresa para a qual irá trabalhar.
Valentina Figuerola